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Pau da Lima: o surgimento do terceiro bairro mais populoso de Salvador

Uma das ruas do populoso bairro,  nos dias de hoje (Foto: Leonardo Martins)

Quem anda pelas ruas de Pau da Lima e desfruta de um comércio farto, pistas asfaltadas, igrejas e escolas, não sabe o quanto esse bairro jovem e populoso evoluiu em tão pouco tempo. Muitos casos e “figuras” importantes rodeiam e enriquecem a história do lugar. Para entender melhor Pau da Lima, nada como viajar ao passado, mais precisamente na década de 1950, quando o lugar não tinha nada, a não ser, a casa do senhor feudal e seus pés de mangaba espalhados por todas as partes. Como havia dito, o local mudou muito e ainda está mudando.
De fazenda a bairro populoso

Com fartura de mangaba e escassez de lima, a antiga fazenda Pau da Lima, pertencente ao memorável Dom Pedro II, último imperador do Brasil, não tem nenhuma justificativa para o seu batismo. 

Devido ao seu carinho por uma de suas criadas, a escrava Maria Prisca Paraíso, o imperador doou as terras para ela. Essa atitude gerou muita polêmica no passado, pela fertilidade e amplitude da área doada. A nova proprietária das terras, por sua vez, negociou o lugar com Alexandre Vicente Ferreira pelo valor aproximado de trezentos contos de réis, moeda utilizada na época.

Pai de cinco filhos, Alexandre tentou por muito tempo proporcionar melhoras nas condições do local, com intenção de deixar as terras para seus herdeiros, porém, não conseguiu nada de extraordinário. Foi preciso dividir o imenso território em cinco feudos e distribuí-lo entre os filhos para o lugar se desenvolver. Pouco tempo depois o Vicente faleceu.

Com o desenvolvimento de Salvador e conseqüentemente o crescimento populacional, as terras passaram a ser mais valorizadas, ganhando mais visibilidade e logo foram loteadas pelos herdeiros, que foram homenageados com seus respectivos nomes nas ruas do lugar.

Com o tempo, pessoas dos mais diversos lugares da Bahia passaram a migrar para as terras, que aos poucos ganhava aparência de um bairro. Apesar da evolução, algumas das principais carências permaneciam no local: a falta de energia elétrica, água e saneamento básico.

Para suprir a ausência de serviços no fornecimento de água potável, moradores andavam até o chafariz, que era localizado onde hoje encontra-se a Rua do progresso. Lembrando, naquela época cavalos eram restritos apenas para pessoas com alto poder aquisitivo.   

Surgimento do comércio

Assim como a escassez da água, Pau da Lima já como bairro de Salvador, ainda apresentava outra grande carência, a fragilidade do comércio. O lugar não possuía muitas atividades comerciais, apenas viajantes passavam pelas terras vendendo suas mercadorias. Entre esses comerciantes do “mundo a fora” se encontrava Landufo de Souza, vendedor de carne, natural de Muritiba - que visitava Salvador em algumas ocasiões, para repor os mantimentos da venda. Landufo pegava os bois mortos em Pirajá e levava ao Retiro para que fosse cortado e preparado para a venda. 

Em um dos freqüentes retornos a capital, o comerciante trouxe sua sobrinha Benedita de Souza Santana, uma jovem que também morava em Muritiba e veio com a intenção de conhecer a cidade. O que ela não imaginava era que naquela viagem conheceria também o grande amor da sua vida e seu futuro marido, José Ferreira de Santana, Zeca para os mais próximos. Zeca era filho de Maria dos Santos Ferreira, herdeiro de parte das terras.

Eles eram bem jovens, porém, bastante maduros para manter uma relação a distância. Benedita por sua vez passou a visitar Salvador sempre que seu tio Landufo vinha repor suas mercadorias. Casaram-se e a relação durou até o ano de 2006, quando Zeca faleceu.

Benedita, viúva de um dos herdeiros (Foto: Leonardo Martins)

Benedita, 65 anos, viúva de um dos herdeiros das terras,  presenciou toda a evolução do lugar, transformação de fazenda para bairro, ambulantes à instituições nacionais, entre outros feitos. “Meu tio foi um dos primeiros comerciantes do bairro, viajava para vários lugares e sempre passava por aqui, foi ao acompanhar ele que conheci Zeca, meu marido. Que Deus o tenha”, disse a senhora.

Pouco longe de Pau da Lima, mais precisamente em Cruz das Almas, se encontrava Gilberto dos Santos. Para Gilberto o acaso também atuou como cupido e tratou de colocá-lo frente a frente com sua futura esposa, casou-se e em 1952 veio morar em Pau da Lima, onde passou a trabalhar no corte e venda de lenha, chegando a ganhar cerca de quatro mil réis por dia.

Gilberto Santos na varanda de sua casa (Foto: Leonardo Martins)
Hoje Gilberto é viúvo e tem uma rua com seu nome, e se sente muito contente com o melhoramento do lugar. Ele se empolga ao contar como era a vida no bairro antigamente, ressaltando sempre o crescimento da população e do comércio no lugar. “Hoje em dia está tudo muito bonito, muita gente por aí, várias casas bacanas. Bem melhor que antes.”, concluiu seu Gilberto dos Santos.

Enfim água e luz

Demorou pra chegar, mas chegou! E foi no mandato do primeiro prefeito eleito em Salvador, Hélio Machado,  que o sistema de água potável foi construído no bairro, sem contar com a energia elétrica que foi durante o governo de João Durval.  Energia que possibilitou ao Antônio Bento, ex-presidente do sindicato dos bancários escrever o Jornal da comunidade durante as madrugada, em Pau da Lima, mais uma das milhares de criações dos moradores do bairro.

Criado há cerca de quinze anos, o Jornal da Comunidade tem como objetivo a divulgação de eventos, produtos, instituições, entre outras atividades realizadas no bairro. É impresso na gráfica do sindicato. Cada espaço destinado à divulgação apresenta um valor diferente, quanto maior o espaço, maior o valor do serviço.

Bento nasceu em Teolândia, onde foi vereador e tinha algumas lojas no local, mas abandonou seu mandato devido a falência dos seus negócios. Casou-se com Maria e teve cinco filhos, que estudaram em colégio público e que hoje são todos são formados, com a exceção do mais velho.
Chegou ao bairro, mais precisamente em São Marcos e logo tornou-se presidente do sindicato dos bancários, que lutava pela melhoria do local, porém um terrível problema o tirou do cargo. Em meio a lutas e reivindicações sofreu um derrame que paralisou os movimentos de uma das mãos. 

Além de explorar as ruas de Pau da Lima, procurei conhecer algumas das personalidades do bairro, e descobri que um grande amigo, Oswaldo Santos, 47 anos, era exatamente quem eu estava procurando. Apesar de sua relativa juventude, quando comparada aos demais entrevistados, é  respeitado e conhecido pelos demais moradores do local. Tudo isso graças a um projeto criado por ele. Em 22 de abril de 2003  criou o Curso Revisão,  que tem por metodologia a motivação do aluno, prezando o lado autodidata.  

Já são cerca de 120 alunos vinculados ao projeto, que vem crescendo e despertando a admiração de uma demanda extensa de estudantes. 

Localizado na Rua do Progresso, onde ficava o antigo chafariz, o Curso Revisão já aprovou diversos alunos em concursos públicos, faculdades, SESI, SENAI, CEFET, entre outros processos seletivos, combatendo o histórico do lugar que é composto por biscateiros, pedreiros, sub empregados.

Oswaldo é otimista em relação ao desenvolvimento econômico do bairro também. “Pau da Lima é um bairro extremamente capaz, Casas Bahia, Insinuante e Canal Jeans já perceberam isso, o povo daqui torna o comércio muito poderoso.” afirma Oswaldo Santos.

Ponciano, herdeiro das terras que originou o bairro (Foto: Leonardo Martins)
Um herdeiro das terras, Ponciano Ferreira dos Santos, que hoje tem oitenta e um anos, nasceu quando nas terras de Pau da Lima tinham apenas cinco casas, a de sua mãe e dos seus quatro tios. Cresceu convivendo com as precariedades do local e pôde acompanhar de perto as notórias e relativamente rápidas transformações que ocorreram. Passou grande parte de sua vida trabalhando com o carvão, na sua preparação e venda.

Segundo o herdeiro, as primeiras casas eram feitas de taipa e palha, e as construções a tijolo custaram a acontecer. Além disso, contou casos como o de Agripina, mulher que faleceu aos 126 anos,  a pessoa que morreu com mais idade, em Pau da Lima.  

Inovações do bairro

Segundo um artigo publicado no site “Frente de Libertação Comunitária”,   O primeiro transporte público do local foi a Marinet, carro bastante espaçoso   usado como condutor para chegar ao centro da cidade. Esse veículo era popularmente chamado de João Expresso e transportava o povo da época até o bairro de Pirajá, onde ficava localizada a antiga estação rodoviária da capital. 

A primeira escola a ser construída no local foi a Emília Araújo, hoje em dia chamada de Daniel Lisboa, onde também foi instalado o primeiro posto de saúde. A segunda entidade de ensino público do local foi a Alan Kardec, seguida pela Roberto Correia e Manuel de Abreu. A educação estava sendo estruturada. 

As primeiras igrejas a surgirem no bairro foram a Católica Nossa Senhora Auxiliadora e a Evangélica Assembléia de Deus, existentes até hoje no lugar.

Hoje em dia o lugar está com sua infra-estrutura muito poderosa e promissora, ajustando-se cada vez mais ao crescimento populacional. Possui seu largo como principal ponte de referência, servindo como caminho de acesso a diversos lugares da cidade. 

De acordo com a publicação Anais – III Simpósio Regional de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto, Pau da Lima é considerado o terceiro bairro mais populoso de Salvador, perdendo apenas para Cajazeiras e Liberdade. Além de possuir um comércio muito abrangente, que supre as necessidades de seus moradores. 

Apesar da sua relativa juventude, Pau da Lima vem crescendo e obtendo resultados importantes no nível de desenvolvimento comercial, tornando-se propícia a investimentos de empresas maiores como a Casas Bahia, Canal Jeans, entre outras que já estão no local. 

Ao confrontar o passado com o presente, as ruas de terra com as asfaltadas, ver que no lugar de um humilde chafariz foi implantado um sistema de água potável; que em vez da noite ficar escura, as luzes do poste substituem a do sol no anoitecer, iluminando e prolongando o dia no bairro, Pau da Lima está entre os bairros que mais evoluíram em menos tempo na cidade, e pode evoluir ainda mais.


Por Leonardo Martins

Leonardo Martins

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